Faz-se extremamente relevante uma análise sobre a cobertura jornalística da guerra ocorrida no Iraque ,considerando as relações de aproximação ou cisão desta com os interesses políticos dos governos envolvidos ,em principal ao americano .
Em um plano mais geral,é de interesse estratégico dos países envolvidos numa guerra o domínio das fontes de informação. A informação é a palavra chave para legitimação de uma guerra, já que a maneira como esta é trabalhada influi de maneira decisiva quanto ao apoio ou não da opinião pública. A garantia da consolidação de sua própria versão dos fatos, transformada em versão oficial, auxilia na construção de um consenso, terreno fértil para concretização de objetivos de um governo.
Podemos definir a Guerra do Iraque,com sendo de baixo consenso, isto é, seus argumentos de legitimação (desde o início das investigações quanto a presença e pesquisa de armas quimicas no governo de Saddam) foram alvo de questionamento no plano internacional. A mídia acompanhou o longo processo de negociação dos EUA com a ONU, as inspeções infrutíferas e os relatórios suspeitos, sua busca de apoios bilaterais com vários países. Antes mesmo de começada, a guerra já encontrou resistência e oposição formal que os meios reproduziram, dando maior ou menor ênfase à autoridade afrontada da ONU ou às manifestações pela paz.
Cabe salientar que, a cobertura jornalistica de um conflito internacional tende a acompanhar o grau de consenso nacional e mundial em torno da legitimidade da guerra.
Pensando nisso em relação ao ofício dos jornalistas , pode se apontar como um dos principais problemas enfrentados por estes durante tal cobertura , a dificuldade em dissociar os interesses públicos ou nacionais do interesse do Estado,conseguindo assim transcender as barreiras patrióticas. Para o jornalista é muito mais conveniente a adesão à versão oficial,com toda uma adoção de clichês oferecidos pelo governo. Fugir disso pode parecer no momento como traição aos interesses nacionais e até ser prejudicial à sua carreira profissional. O repórter ao assumir uma postura fora do senso comum (abordando por exemplo a visão do outro lado envolvido na guerra) fica mais vulnerável à criticas,e suas atitudes ficam ao julgamento de sua nação; numa linha muito tênue entre ser politicamente correta e aceitável,ou não... Vide o caso de demissão do jornalista veterano Peter Arnett pela NBC, depois de entrevista à emissora estatal iraquiana em que fazia uma análise crítica à estratégia de guerra de seu país e aos problemas inesperados enfrentados. Qual a posição do jornalista? Representante do seu país? Embora seu compromisso seja com a sociedade americana, e não com o governo Bush, a visibilidade da mídia e sua influência junto à opinião pública, tornam sua situação especialmente delicada.
Supor também que a imprensa deva se posicionar incondicionalmente a favor de seu país na guerra, também acabaria por esvaziar a função social do jornalismo , pois dificultaria o caminho da nação `a assumir alguma postura critica, algo que não se adequaria aos parâmetros de uma imprensa em um pais de regime democrático,estruturada mesmo que apenas idealmente sobre um conceito de ética.
Esse fogo cruzado em que os jornalistas americanos se encontravam começou a se reduzir com o esgarçar do consenso e o fracasso americano no controle das informações ,conseqüentemente abrindo assim o espaço para uma maior pluralização do tema.
Essa pluralização acaba também por gerar um maior amparo para a cisão e questionamento das informações advindas de fontes oficiais. Grande força catalisadora desse processo pode ser atribuída à emissoras internacionais como a RTP e a Al-Jazeera já devidamente trabalhadas na postagem: “Os novos caminhos da informação” .Emissoras estas ,de países que não são diretamente envolvidos na guerra. Grande relevância nesse processo pode ser apontada também na participação na cobertura da BBC da Inglaterra.
A BBC apesar de ser um canal publico de televisão ,se mostrou bastante empenhada em esclarecer a opinião pública e divulgar as manipulações do Estado,atuando de forma conjunta à grande imprensa britânica, e auxiliando no despertar desde o início da guerra a uma reação polêmica em plano internacional.
Um dos casos por exemplo,que provocou polêmica fazendo com que a própria imprensa americana passasse a rever alguns episódios é o exemplo do resgate da soldada Jessica Lynch, uma produção realizada e distribuída pelo Pentágono, dando conta de sua resistência, ferimentos e de uma operação militar delicada e arriscada para seu salvamento. Partiu da TV estatal inglesa, a BBC, a iniciativa de revelar a manipulação que cercou o episódio: o hospital em que se encontrara a soldada, na verdade, já estava ocupado pelas forças americanas, não houve resistência ou ferimentos. Boa parte da carga dramática de uma das primeiras “histórias” a circularem sobre o conflito, assim, era invenção. A BBC julgou que seu principal compromisso era de esclarecimento da sociedade, e só depois desta denúncia é que a grande imprensa americana admitiria ter sido manipulada pelo Pentágono.